quarta-feira, 28 de abril de 2010

Farmacodinâmica

Os efeitos farmacológicos mais relevantes da cocaína situam-se no sistema nervoso central, uma vez que promove ações estimulantes responsáveis pela instalação da dependência. Isso decorre da inibição da recaptação de dopamina, por bloqueio da proteína que a transporta, elevando dessa maneira, a concentração sináptica desse neurotransmissor nos circuitos neuronais que integram o sistema de recompensa cerebral. Como consequência de tudo isso, se estabelece uma intensa compulsão, claramente ilustrada pelo fato de os dependentes, frequentemente, violarem tabus sociais para obter a droga (6,9). A cocaína também inibe a recaptação de serotonina (5HT2) e noradrenalina (NA), além de interferir nos sistemas de neurotranmissões que envolvem endorfinas, acetilcolina e sistema gabaérgico. Ao atingir o sistema nervoso central, seus efeitos são imediatos e possuem uma duração relativamente curta, entre 30 e 60 minutos (5).
A cocaína em forma de crack é absorvida de forma mais rápida pelo organismo. A diferença entre a intensidade e a velocidade dos efeitos da cocaína, de acordo com a forma de utilização, pode ser explicada pela trajetória que cada um desses caminhos exige para atingir o SNC. Isso porque os gases provenientes da combustão são absorvidos de modo instantâneo pelo álveolos pulmonares, passando para o coração e dali para o cérebro (10).
Isso torna os efeitos do crack muito mais rápidos que os obtidos pelos outros métodos, pois na via injetável essa droga acompanha o sangue venoso pela veia cava até o lado direito do coração, passando daí para o pulmão, a seguir para o lado esquedo do coração e dirigindo-se então para o cérebro. Já o efeito da droga mediante a utilização das mucosas é bem mais lento, pois elas primeiro absorvem a substância, para depois enviá-la ao sistema circulatório (10).
Em consequência desses aspectos farmacocinéticos, a forma intranasal tende a demorar de dez a quinze minutos para fazer efeito no sistema nervoso central, a endovenosa entre três e cinco minutos e a pulmonar entre dez e quinze segundos (10).
No que se refere os efeitos da intoxicação (originados por um único episódio de uso) a cocaína estimula artificialmente o Sistema Nervoso Simpático. Este é uma parte do Sistema Nervoso Autônomo, responsável por preparar o organismo para o enfrentamento de situações de perigo ou stress. O batimento cardíaco, pela ação do Sistema Nervoso Simpático, torna-se bastante acelerado; a pressão arterial e a temperatura corporal aumentam; a necessidade de sono e apetite diminuem e a pessoa entra em estado de alerta (7).
Os relatos dos usuários acerca dos efeitos subjetivos originados pelo uso incluem: excitação, euforia, maior percepção sensorial, diminuição do cansaço, do apetite e do sono; aumento da autoconfiança, da auto-estima; ansiedade e delírios persecutórios (5,7). Assim, os efeitos agudos da cocaína incluem sintomas clínicos e mudanças compornamentais (5).
A maioria dos usuários de cocaína não preenche os critérios para o diagnóstico de depressão. Suscede a um grande consumo desta substância um estado de protação, que pode ser acompanhado de ideação suícida, imitando totalmente uma depressão com melancolia, exceto pela sua breve duração. Este fenômeno se deve à depleção abrupta que o uso abusivo e prolongado de cocaína causa, tanto da dopamina sináptica, quanto das reservas de feniletilamina (FEA), que é um análogo endógeno da cocaína (6). Isto esplícita, em parte, a instalação do complexo mecanismo da dependência química e da necessidade do uso repetitivo desta subtância, assim como o intens sofrimento psicológico causado pela privação da mesma (4).
Os efeitos gerais do seu uso incluem doenças cérebro-vasculares (isquemias e infartos hemorrágicos), convulsões, complicações cardiovasculres (infarto do miocárdio e arritmias) e depressão respiratória, entre outros (12).
A excitação sexual que acompanha o seu uso se deve ao impacto no sistema dopaminérgico, além de um rápido incremento na produção de costicotropinas e de hormônio luteinizante. Juntos, esses mecanismos atuam no sistema de compensa cerebral, com aumento das percepções prazerosas e uma diminuição dos fatores estressantes. Porém, o seu uso crônico pode causar uma desregulação da propriedade da dopamina de inibir a secreção de prolactina (8).
O uso de cocaína na gravidez dobra o risco materno-fetal de desenvolver transtornos cardio-tóxicos, além de reduzir o fluxo sanguíneo para a placenta, aumentando a resistência vascular uterina e alterando os níveis de oxigênio fetal, uma das causas de placenta prévia e de aborto espontâneo. No feto pode causar infarto cerebral, retardo no crescimento, enterocolite necrosante, alterações cardíacas e defeitos no tubo neural. Após o nascimento, essa criança tende a uma resposta ventilatória diminuída ao dióxido de carbono com o aumento do risco de morte súbita (8,11).
A utilização das mucosas como a das narinas (uso intranasal), da boca, dos órgãos sexuais, do fórnix conjuntival e do ânus, dá origem a algumas patologias particulares. Isto porque a cocaína estimula a constrição dos vasos sanguíneos dessas regiões e o uso contínuo causa irritações nas mucosas, o que pode resultar em sangramentos, ulcerações e, no caso do uso intranasal, até perfurações do septo nasal (12).

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